Jovem na política: Alienado, quem?

O jovem. Pelo menos é esse o (pré) conceito que o jovem brasileiro carrega: Alienado. A fim de entender essa alienação alguns entrevistados falaram sobre o assunto.
Enquanto a juventude dos nossos avós e bisavós lutava em guerras, os jovens de 1968 diziam “não” ao combate no Vietnã e à ditadura militar, e “sim” a revoluções liberais e à revolução sexual, os jovens do século XXI parecem não abraçar causas. A sociedade espera que a juventude seja o motor de mudanças e traga soluções políticas e sociais no país, mas pelo visto vai continuar esperando. Bruna Raissa, 22, estudante de direito e assistente jurídica, reflete bem essa expectativa: “vejo que se o povo brasileiro (representado pelos jovens, que são a força da nação) estiver disposto, conseguiríamos ir muito mais longe”.
Em pesquisa da universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/ Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipep) os jovens belorizontinos disseram confiar mais na televisão do que em partidos políticos, Câmara, Assembléia ou Congresso. De acordo com a Data Teen(Centro de pesquisas do Instituto Paulista de Adolescência) apenas 19,5% dos jovens entre 16 e 18 (com direito ao voto facultativo) possuem título de eleitor.
Mas o jovem é mesmo alienado? A estudante Maria Luiza, 15, diz que “Parcialmente. Não é certo generalizar isso porque tem, sim, jovens que se preocupam muito com a política hoje, e alguns que não ligam muito”. Se um exemplo de participação política é filiação a um partido, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (2007) 522.754 jovens de 16 a 24 anos estão filiados a partidos políticos. São muitos os jovens que “se preocupam”, mas eles representam apenas 4,52% dos filiados a partidos políticos no Brasil. Valor pequeno, já que 20,1% da população brasileira têm menos de 25 anos (Dado da ONU Brasil 2006). É aí que aparecem os 33.577.246 jovens que “não ligam muito”. Quando questionada sobre a participação do jovem de hoje na política, a estudante afirma: “acho que não (participa) tanto como antigamente porque hoje nossa política é mais estável, mas eu acho que ele tem sim uma participação fundamental”.
Levando-se em conta que não só de partidos a política é feita, é válida a observação de que os jovens participam quando é do interesse deles. Um exemplo é a quantidade de votos online que emissoras de televisão conseguem quando a pesquisa é para eleger o candidato a permanecer em um reality show ou a melhor banda do ano. Os jovens ainda se articulam muito bem quando o assunto é organizar uma festa ou um pequeno campeonato esportivo. São eles que negociam com os pais os passeios a serem feitos, o dinheiro da mesada, reivindicam as regras da casa. Falta agora a expansão de todo esse engajamento para outras áreas, que vão além da vida pessoal.
Para auxiliar os jovens que se evolvem politicamente, existe a internet. Ela é incansavelmente acusada de massificar a cultura jovem, alienar a mocidade... Ainda assim por meio dela é possível, dentre outras ações, acompanhar os acontecimentos do legislativo, como lembra Maria Luiza: “Pelo Twitter ou site do seu candidato você pode ficar sabendo melhor o que ele está fazendo na Assembleia (ou onde ele trabalha) e os projetos que ele está lançando... Para saber se você vai votar nele de novo ou se é hora de mudar de candidato.”
Joelma Xavier, mestre em linguística e professora do Colégio Bernoulli, quando questionada sobre o uso da internet para afastar/aproximar o jovem da política, responde: “se você entra na internet, você consegue acessar, por exemplo, no site oficial do TRE, uma lista das contas públicas (...). Então, eu acho difícil a gente falar que (a internet) afasta a realidade política, porque você tem uma série de informações além de uma cobertura jornalística sobre as possíveis fraudes, inadequações, erros, mentiras... Bom, eu acho que há um mau uso da ferramenta, então essa seria uma crítica geral. Assim ele (o jovem) está inserido nesse grande universo de informações, mas nem sempre elas são utilizadas de uma maneira adequada. Lançar mão, por exemplo, de escolher um candidato consultando o perfil, o histórico dele, quantos jovens será que fizeram isso? Quantos brasileiros lançaram mão desse recurso? Até mesmo em termos de disponibilidade da ferramenta. Pensando naquele público que tem acesso, nem mesmo ele utiliza de uma forma abrangente, pensando na autonomia de voto, de escolha, ou mesmo de participação que a ferramenta pode possibilitar”. Além disso,  organismos como a Avaaz, definida no próprio site como “nova rede de mobilização global” permitem um engajamento político em escala nacional e mundial por meio da internet, ferramenta que é conhecida dos jovens e pode ser usada com esse objetivo.
O que acontece no Brasil hoje é que o jovem tem a oportunidade de não ser indiferente ao contexto político em que vive e de se articular politicamente nos ambientes familiar, escolar e religioso, mas a grande maioria não faz uso dessas oportunidades. Assim o país continua aguardando por jovens que provem o contrário.

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