Votar ou não votar? Eis a questão.

Todos os cidadãos entre 18 e 70 anos são obrigados a votar. Aliás, perante a lei, só é cidadão quem possui o título de eleitor. Por que temos essa obrigação jurídica? Será que essa obrigatoriedade é realmente benéfica?Afinal, até mesmo como forma de protesto, vários eleitores anulam seus votos ou votam em figuras pitorescas (como o famoso humorista e recentemente eleito deputadoTiririca). Parece óbvio que algo está errado!

“Eu não sei o que faz um deputado, mas vote em mim que eu te conto”. Essa foi uma das frases de efeito utilizadas pelo humorista Tiririca durante sua candidatura. Realmente, ela se adapta bem à situação: ele é humorista, sabe divertir, não criar leis. Não obstante, ele foi surpreendentemente eleito, com mais de 1 milhão de votos! O que poucos sabem é que, na saia de sua legenda partidária, pelo menos candidatos também serão eleitos. Será que esses candidatos, geralmente de partidos menores, são honestos ou simplesmente querem seu lugarzinho ao sol da corrupção? Tamanha omissão nos leva, inevitavelmente, à pergunta: o voto realmente deve ser obrigatório?
Duvido muito de que a maioria dos eleitores de Tiririca acredite em suas reais propostas. Aliás, quais são mesmo as suas propostas? É exatamente nesse ponto que entra a falha do voto obrigatório: eleitores pouco instruídos ou que simplesmente são contra esse tipo de obrigatoriedade usam seu poder de escolha inadvertidamente. A eleição de candidatos tão sabidamente despreparados não representa a inocência da população. Não apenas isso. O buraco é, com certeza, muito mais embaixo, lá no passado educacional, no ensino que os eleitores brasileiros (não) receberam. A imagem esperada de cidadão é a daquele que tem consciênciado verdadeiro valor do voto, que sabe quais são as funções políticas de quem está elegendo, que conhece os problemas enfrentados pelo seu país e que tem certo conhecimento da legislação eleitoral. Pouquíssimas pessoas sabem que um deputado eleito com um grande número de votos carrega consigo outros candidatos, que se elegem graças à sua legenda política.
Talvez se a população tivesse mais instrução, soubesse associar
a eleição dos candidatos à possibilidade de mudanças, não haveria esse clima circense no período de eleições. Nem todos os eleitores imaginam que somos nós quem pagamos os salários desses candidatos tão despreparados (e também
dos que pegaram carona na legenda). Aliás, somente quando aparecem na mídia os escândalos de mensalões, mesadas, desvios de verbas e cuecas recheadas é que a população associa seu bolso vazio ao bolso cheio do candidato eleito. Mas aí já é tarde demais, o mal já está feito.
O voto deve, sim, ser obrigatório. Porém, não pela força da lei, que pode levar a decisões errôneas, que se baseiam em falsas ideologias ou na ingenuidade. Não deve haver uma obrigatoriedade jurídica para votar, mas sim ideológica.
Cada cidadão deveria impor a si a obrigatoriedade “facultativa” do voto, baseando-se em seu julgamento pessoal. Quem se julga apto, pode e deve votar e assim, a pessoa se obriga a exercer esse direito. Agora, se o governo quer parar de protagonizar comédias e dramas na mídia, é melhor começar a investir em educação o mais rápido possível, pois é principalmente um cidadão bem instruído, com  conhecimento, que está apto a escolher seu candidato conscientemente, evitando os tão famosos escândalos futuros. Mas quem se importa?
Por Paula Viegar Grego de Oliveira

Comentários:

Postar um comentário